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Precisamos falar sobre Kevin

Sabe quando você passa por uma situação que fica remoendo, até que chega um momento no qual não se aguenta e resolve escrever tudo aquilo para poder desabafar toda a pressão? É isso que Eva Khatchadourian resolve fazer e no início do livro somos apresentados a uma pessoa que fica constantemente escrevendo cartas ao seu marido.

A linguagem do livro é em primeira pessoa e cada capítulo é uma das cartas de Eva em que ela conta a vida amorosa e depois de pais entre ela e o Franklin, seu ex-marido.

A todo momento sentimos a culpa existente em Eva por não conseguir evitar que seu filho se tornasse uma pessoa de índole ruim e isso faz com que tenhamos vontade de falar para ela que nada do que acontece realmente era sua culpa.

O Franklin é o personagem mais tapado, teimoso e pacato que existe. Ele beira o insuportável em diversos momentos e suas atitudes sempre vão fazendo com que tenhamos mais raiva do personagem. Franklin não faz questão de perceber as coisas que são escancaradas para qualquer um, prefere sempre ter uma visão boa da situação e isso faz com que nada seja corrigido, o que pode ter levado ao desfecho da história, pois nem sempre tentar esconder embaixo do tapete ou até mesmo fechar os olhos vai fazer com que as coisas não piorem de situação.

A vida de Eva e Franklin antes do nascimento do Kevin consistia em ela passeando por todos os países possíveis para a elaboração de guias turísticos do qual não fosse necessário gastar rios de dinheiro para poder aproveitar bem. Já o Franklin procurava lugares interessantes para fazer propaganda.

No começo os dois nem pensavam em ter filhos, mas acabaram mudando de ideia e quando Kevin nasceu demonstrou que não sentia nenhuma afeição por sua mãe, o que no começou chegou a chateá-la, só que conforme o tempo foi passando ela percebia que nem tudo era culpa dela.

Eva a todo momento vive tentando se aproximar de seu filho para que ele perceba que ela realmente gosta dele, mas nenhum dos dois consegue demonstrar esse sentimento e ela sente medo de que além de tudo o que já sofre também a acusem de não ter sido uma boa mãe e por isso que ele tenha se transformado nesse monstro.

Mas... Precisamos falar sobre Kevin um pouco e deixar de lado os seus pais, afinal esse livro é em sua homenagem.

É difícil conseguir escrever sobre o Kevin depois de tudo que passamos na leitura, mas a nenhum momento conseguimos perceber exatamente qual é a vontade dele em relação ao mundo e o que ele realmente sente ou deixa de sentir, pois ele não deixa transparecer nada ou existe nada para transparecer.

Um fato bem interessante é que ficamos em dúvida ao final se o Kevin realmente é um psicopata ou se possui algum complexo mal resolvido que por falta de atenção, na minha opinião por culpa do Franklin, não foi solucionado.

Kevin é o personagem mais cruel já inventado e também o que consegue ser mais humano e realista de todos com qual já me deparei pelos diversos livros que passaram por minha vida. Ele não possui clichês e possui uma personalidade forte, difícil de ser detectada ou então descrita em poucas palavras, mas vamos ficando pasmos com a sua impassividade em relação as coisas que acontecem ao seu redor e em como ele consegue fazer diversas coisas sem pensar nas consequências ou exatamente as fazendo devido o seu resultado.

A cada página lida do livro nos sentimos cada vez mais abismados com as situações e isso faz com que os nossos olhos não consigam desgrudar das páginas e queiram absorver cada vez mais sobre esse personagem peculiar e tentar compreender suas atitudes.

Precisamos falar sobre Kevin é um livro profundo psicologicamente que abala as nossas estrutura e faz refletirmos sobre muitas de nossas atitudes e em como muitas vezes conseguimos ser superficial ou maldosos mesmo que não possuímos qualquer desvio grande de caráter.

Esse livro possui uma temática bem pesada e por isso não deve ser lido quando estiver muito feliz nem muito triste, pois pode colaborar para destruir uma e colaborar com a outra.

O final do livro é surpreendente e choca de um modo que após ler todo o desfecho você fecha a obra e fica refletindo sobre tudo o que passou, o que sentiu e com milhares de por quês que ficam procurando respostas em nossas mentes.

Esse foi um livro que eu estava ansiosa para ler e felizmente encontrei muito mais do que eu procurava em uma trama, a primeira que me fez chorar por meia hora de tanto que me senti abalada por Eva, uma mulher que acima de tudo possui uma força que muitas nesse mundo não conseguiriam.

Recomendo que em algum momento de suas vidas leiam esse livro pois a Lionel Shriver tem um dom impressionante na arte da escrita, conseguindo dissertar de um modo que nos sentimos como se tudo tivesse realmente ocorrido e que a Eva estivesse escrevendo aquelas cartas quase como um pedido de desculpas para o seu marido.

Essa obra foi transformada em filme, mas ainda não tive a oportunidade de ler. Creio que deve ser difícil conseguir passar toda essa profundidade em poucas horas cinematográficas, só que mesmo assim quando possível vou querer conferir essa adaptação.

4 comentários:

  1. Como eu tenho vontade de ler esse livro, já vi ele várias vezes na livraria e sempre fico querendo comprá-lo, mas eu tenho muitos livros para comprar. Eu também não sei se o filme foi fiel ao livro, mas todos falam super bem da Tilda Swinton e do Ezra Miller, que interpretaram Eva e Kevin.
    Excelente resenha.
    Abraços.

    http://viciadoemlivrosefilmes.blogspot.com/

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    1. Obrigada Rodrigo!
      Acho que compensa você comprar esse livro antes de outros, pois com certeza você irá se impressionar.
      Assim que ver o filme verei se faço uma comparação aqui no blog.
      Abraços.

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  2. Primeiro vi o filme, óbvio que não entendi muito, e logo depois comecei a ler o livro. Que história fantástica, te prende do início ao fim. Me encantei e com certeza, se torneou meu livro preferido!!

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    1. Marcella,
      Ainda não vi o filme, mas espero fazer isso em breve.
      O livro realmente é fantástico e também se tornou um dos meus prediletos.

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